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A primeira papa da Maísa

  • Foto do escritor: Mico
    Mico
  • 23 de jan. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 20 de fev. de 2020

Maísa nasceu de uma cesariana agendada por polidrames, um dia conto, pesava 3,805 kg e a media 53 cms. No bloco operatório, puseram-me nos braços um bebe redondo, gorducho e consistente, com um percentil 85. O meu primo brincava que ela parecia a filha do boneco Michelin, cheia de banhas e de pregas que ela era!


No recobro, eu sozinha coloquei-a para mamar, ela era dorminhoca, abocanhou o mamilo muito bem e mamou de olhos fechados. Passavam-se as horas e ela pouco reagia, não despertava, pouco mamava e os exames de sangue deram um resultado de glicemia muito baixa.

Tentaram dar-lhe suplemento 3 vezes. No total foram 4 horas passadas no recobro, com dores horrendas.

Na maternidade fomos dando o nosso melhor, estimulando a produção de leite, deixando-a na mama 15, 20, 25 mins, oferecendo suplemento a posteriori. Lutando com várias tetinas até acertar. Fomos para casa, com 4 biberons de doses individuais de Aptamil, 2 tetinas roxas (as únicas com as quais ela atinou) e uma lata de Aptamil Confort.


Depois de 6 dias tínhamos conseguido amamentar um dia inteiro sem suplemento. Estivemos na nossa primeira consulta com a pediatra, a dos 10 dias. Correu bem, incentivou-nos a continuar a amamentação em exclusivo, a Maísa já tinha começado a ganhar peso, só 45 gr, mas ganhou!


E fomos seguindo, esgotadas, com mamadas que duravam às vezes 50 minutos, uma hora… às vezes corriam bem, outras vezes não tão bem. Tirava leite, fazia biberons de 50 ml às vezes 60 para poder dormir à noite e de madrugada. A minha mãe ajudava-me imenso nos primeiros dias, sempre me ajudou muito mas os primeiros dias foram vitais para a minha sanidade.

Seguiu-se a segunda consulta, para pesar a Maísa, tinha ganho “bem”; umas 19 quase 20 gramas. Terceira consulta caímos para 16 gr. Quarta consulta, fomos para 10 gr. Começou o pânico. A pediatra tranquilizou-me disse que ela tinha estado constipada, talvez tivesse afectado a fome e a capacidade de mamar.

A cada consulta saímos preocupadas, tristes, frustradas, cansadas, empenhadas em melhorar as mamadas.

Estivemos em consultas de amamentação, em consultas de osteopatia, consultas de tudo um pouco para tentar melhorar a situação. A Maísa tinha na altura, menos de 3 meses.


Na última consulta antes de vir para Luanda, a nossa pediatra entregou-nos o papel do demónio: introdução alimentar aos 4 meses apesar de ter ganho 19 gr/dia naquela semana. Chegando a Luanda pesamos outra vez, tinhamos voltado a baixar para 10 gr/dia.


Nessa altura, começamos uma luta inglória que ainda não conseguimos vencer: o biberão. Após 10 marcas: Chicco Natural Feed, Chicco tetina norma, Chicco tetina de borracha, Mam, Dr. Browns, Medela, Tommee Tippee, Avent, Nuk, Suavinex… diga uma marca, nós tentamos e continuamos a tentar.




Eu voltaria a trabalhar dentro de menos de 20 dias e a batalha do biberão teria de ser vencida.

O pai deu, a baba deu, a avó deu, eu dei, a tia-avó deu, trocamos de tetinas, furamos as tetinas, aquecemos o leite, demos no meio da madrugada, entregamos o biberão para ela brincar, demos com fome, demos sem fome, demos com muita fome… Os biberões que ela não bebia, eu usava para dar com a sonda (um dia explico o processo) enfim…


4 dias depois fomos a outra pesagem: a Maísa tinha perdido 60 gr.

Era oficial: o pânico estava instalado.

Eu vivia uma prisão. Não podia sair de casa para nada e quando saísse tinha que ser no máximo 1 hora e meia.

Tinha pânico de ficar presa no trânsito. A minha filha não aceitava nenhum biberão, nenhum método, já estávamos com a sonda há mais de 3 semanas e mesmo assim, a danada perdeu peso.

Estava perdida, cansada, esgotada.

Não sabia mais o que fazer, senti-me a fracassar.

Comia cookies de amamentação, tomava 3 L de Jungle Juice por dia e tomava 9 comprimidos de Domperidona por dia. Meu peito doía, jorrava leite em jacto, os mamilos estavam massacrados de tanto tirar leite (para o stock) e dar de mamar (para a engorda) e ainda assim, nada parecia funcionar.


No dia da sua terceira pesagem, aqui em Luanda, dei a minha filha um bocadinho de banana esmagada. Ela ficou encantada!!

Fomos à pesagem e tinha ganho 100 gr. Uma vitória mas ainda não o suficiente.

Recebemos instrução para começar as papas.

No dia seguinte, encaminhei-me para a casa dos meus pais, com uma tigela, um frasquinho de papa e a minha bomba da Medela. Sentei-me às 10:30 e enquanto ela dormia, tirei 150 ml.

Quando acordou, demos-lhe uma papa de arroz da Holle com leite materno.


Foi a melhor coisa que fizemos! Foi uma alegria só. Nunca tinha visto a minha filha a comer tão bem e tão satisfeita. Foi um orgulho.

No dia 14 de Janeiro deixamos, após 3 meses, a amamentação exclusiva. Se era o que eu queria? Não. Qualquer mãe que quer e não consegue alimentar o seu filho sabe a frustração, o sentimento de impotência e incompetência que dá no coração. Mas chega uma hora que não é o eu que interessa.

A primeira papa foi um misto muito grande de tristeza, melancolia, orgulho, alívio, felicidade e liberdade.



Como tudo da maternidade, foi mais uma fase.

Estamos felizes e prontas para engordar!



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