A Prisão chamada amamentação
- Mico
- 10 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
A Amamentação.
Eita.
Como eu coloquei expectativa e intenção na amamentação.
A Vanessa e eu, praticamente a rebentar, assistimos, dedicadas, a um workshop de quase 3 horas com uma conselheira de amamentação, na cave de uma loja onde o espaço era escasso mas a água era grátis.
Na altura, a Juliana também foi ter connosco.
Lembro-me de tirar notas, de filmar, de tentar memorizar. lembro-me de beber litros de cha de caxinde, comer ginguba, ainda em Luanda.
Antes de ter a Maísa, lembro-me de pedir ao Pedro explicações de como funcionava a máquina da Medela.
Fiz, ou achei que fiz, tudo o que estava em meu poder para a amamentação dar certo. Mais do que tudo, pus auto-confiança, fé e dedicação.
E a Maísa nasceu. E esqueci-me de tudo o que tinha aprendido até ali.
Nasceu gorda, inchada, nasceu pachorrenta. Ninguém me a pos no peito quando estava no bloco e nenhuma enfermeira me a pos na mama no recobro. Em esforço, com fios, caterers, máquinas, dores - tantas dores, dei um jeito e lá a enfiei numa mama, como podia.
Não senti grande coisa...
Dali, vieram falar comigo, dizer que iam vesti-la. Perguntei se não tinha que mamar.
A enfermeira lá a pos na mama outra vez, 1 minuto e tirou-a para vesti-la.
Dali, tiraram-me a Maísa, disseram-me que estava mole, precisava fazer exames e que lhe iam dar um suplemento para ver se ela reagia.
E foi a primeira refeição da minha filha. Uma pipeta de açúcar e um biberão de suplemento.
No hospital seguimos, por mim, ela podia ficar horas inteiras na mama, eu não me importava mas aparentemente não estava a fazer bem.
Não podia. E recomendaram-me depois de 15 minutos na mama, dar-lhe um biberão.
A Maísa não chorou no hospital. Nunca.
Só para tomar banho e fazer o teste do pezinho.
Nunca chorou. Nem de fome.
Suspirava. Muitas vezes.
Sai da maternidade com 2 tetinas, 3 embalagens pré-medidas de suplemento e uma caixa de Aptamil.
De regresso a casa decidi que iria tentar acabar com o suplemento.
Entrei numa espiral insana.
Dar de mamar numa mama e com a bomba na outra.
Por a bomba no peito assim que acabasse de dar de mamar.
Por a bomba no peito antes de dar de mamar.
Acordar de madrugada para dar de mamar e ficar acordada com a bomba.
Durante dias e semanas tentei por tudo estimular a minha produção.
Primeira visita da pediatra, ganhou 40 gr.
E a seguir, quase nada.
Até que a certa altura começou a perder peso.
Aqui, quem já me acompanha sabe o perrengue que passei entre biberão, peso, pediatras e leite.
E os nódulos.
E as folhas de couve.
E os mililitros. Todos os mililitros contam.
E as massagens.
Os jactos de leite.
O extrair o leite.
O guardar o leite. Conservar o leite. Congelar o leite.
E power pump.
E pump.
E limpa pump.
E esteriliza pump.
E pump, pump, pump.
A partir dos 2 meses, tornou-se impossível para mim afastar-me de casa por mais de 2 horas.
Era impossível ficar presa no transito, enganar-me no caminho.
Dormir a sesta, dormir à noite, descansar 3 horas, ir à fisioterapia, ao osteopata ou à acunputura.
E quando cheguei a Luanda, era impossível sair para ir às compras.
Era impossível ir à praia.
Era impossível ficar fora de casa.
Era impossível pensar em ir trabalhar nessas condições.
Aos 3 meses a Maísa começou a perder peso, continuava a mamar sem parar e não tinha o mínimo interesse por qualquer biberão, copo, tigela, colher.
Vivemos o inferno.
E questionavam e questionavam e eu não tinha respostas.
Tudo o que eu precisava eram 6 horas de sono e 4 horas de praia.
Não precisava de ser no mesmo dia.
Só precisava/so disso na vida.
A amamentação é uma paixão mas é também uma prisão.
Amamentação é sorte e dedicação.
Horas de empenho.
São horas de entrega.
Amamentação é devoção, é religião, é abnegação.
Amamentação é uma coisa de mãe.
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