A solidariedade das mães
- Mico
- 15 de jan. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de fev. de 2020
Antes de sermos mães achamos, sabemos exactamente o que faremos quando nos tornarmos mães:
- Meu filho não vai dormir comigo.
- Minha filha vai mamar até aos 10 meses.
- Meu parto será natural.
- Suplemento? Nunca!
- Meus filhos jamais farão refeições com as telas.
- Os avós? Só nos finais de semana.
- Chupeta ainda na maternidade? Que horror!
E aí, você faz xixi num pauzinho e aqueles dois traços aparecem mais rosa do que nunca.
A pessoa não sabe se ri, se chora.
E quando finalmente se decide não sabe se é de felicidade ou de terror.
A partir daí minha filha, o universo se encarrega de fazer você engolir todos os sapos, todas as certezas, todos os preconceitos, todas as suas decisões radicais.
Ele vai te fazer pagar por todas aquelas vezes que falou que gravidez não era doença era apenas frescura.
Se alguma vez você não deixou aquela grávida passar primeiro na fila do banco, se prepare para ficar em pé na do supermercado porque já deixando você encontra com cada desgraçada, imagina se não deixou.
Vai sim acontecer do teu filho comer em frente a TV com 7 meses.
Vai sim acontecer aquela birra mimada no caixa do supermercado bem no dia que você nem uma água passou no rosto.
É quando seu filho não estiver ganhando peso correctamente, você vai rezar a todos os Deuses para ele aceitar o suplemento. Vai doer? Vai. Mas entre doer em ti e doer ele, mãe sempre escolhe doer nela primeiro.
Você vai se arrepender de não ter dado a chupeta tão tarde e vai se arrepender também de não ter esperado só mais um pouquinho.
Acredite, tudo vai te acontecer.
Mas um desses dias desesperantes você vai dar de frente com a solidariedade das mães.
A solidariedade das mães é um polvo, com braços acolchoados e tentáculos de ternura.
É um bicho que te dá o mais reconfortante dos abraços.
Ele te ampara.
Ele te entende.
A solidariedade das mães é uma coisa que acontece entre gerações.
A da sua mãe com a da sua tia.
A da sua com a sua amiga.
Porque com a maternidade, graças a Deus, também vem a amnésia.
A solidariedade das mães às vezes vem disfarçada de “vou te dar o contacto do médico que me ajudou”.
Outras vezes de “Leva este livro. Tenta ler no horário das mamadas.”
Muitas vezes se esconde por trás de um “Quer que eu segure? Eu já acabei de comer” ou “Deixa, que eu troco!”, de um "leva! Eu já não uso!" uma coisa cara mesmo.
Outros dias é uma mensagem que te encoraja, no meio do desespero.
O mais caloroso dos abraços desse polvo é um olhar carinhoso e um “eu sei o que você está passando.”
Tantas vezes ele é um silêncio profundo.
Sem palpite.
Sem julgamento.
Sem solução.
Sem conselho.
Sem som, tão só o da esperança.
Tão só o olhar que te reconhece como mãe, em todo teu esforço, em todo o teu cansaço, em todo o teu desespero e toda a tua angústia.
Ele apenas deixa pairar no ar:
“Minha filha é duro mas vale a pena.
Tenha fé e segue seguindo.
Vai dar certo.
Você está dando o seu melhor, como poderia não dar?”
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