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O levante

  • Foto do escritor: Mico
    Mico
  • 8 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Por algum motivo que eu não entendo, nunca ninguém nos conta como serão aqueles 2 ou 3 dias na maternidade depois de ter o bebe.

Dizem que é porque nos esquecemos e porque passa rápido, eu não acredito nisso.

O meu primeiro dia na maternidade foi, sem qualquer sombra de dúvida o dia mais violento de toda a minha vida.

O meu parto, foi uma cesariana agendada, apesar de todo um plano de parto lindo que eu tinha preparado assim como todo um conjunto de sessões com uma hipnoterapeuta e uma doula.


A Maísa nasceu com a glicémia baixa, ela era uma autêntica bola e, como diz o meu primo Pedro, uma mistura entre o boneco Michelin e uma labrega da Beira.

Nasceu às 16:57, media 53 cms e pesava uns módicos 3,850 kg.

Estava tão a boiar na sua piscina olímpica de 115 cms de circunferência que tiveram que me fazer 2 cortes laterais no útero e a obstetra teve que me dar uma chave de Jiu-Jitsu na barriga que eu só sentia o mundo inteiro a revirar dentro de mim.


Fiquei quase 4 horas no recobro à espera que a minha filha reagisse e a levar morfina nos cornos para aguentar com as dores. Lembro-me de uma enfermeira vir me perguntar "de 0 a 10 como é que está a sua dor?"

Respondi-lhe "Minha senhora, eu acabei de fazer uma cesariana."


Ás 21:00 estava no quarto, eu, a Maísa e mais uns 15 familiares.

Depois de 30 minutos o Marco veio encaminhar todo mundo para a porta de saída e finalmente ficamos a sós.

Ás 23:30 entraram-me duas enfermeiras pelo quarto, eu estava meio a dormir, meio acordada, meio mergulhada em ocitocina e disseram-me "vamos fazer o levante".


E achava eu que no recobro estava com dores. #inocenti


Nunca nada me doeu tanto como aquela merda daquele levante.

Nunca nada NA VIDA, me doeu tanto como a puta daquele levante.

A minha algália tinha feito um cotovelo e eu tinha a bexiga com um litro de urina que me pressionava os pontos.

Esvaziaram-me a bexiga, retiraram-me a algália e apertaram-me a barriga.

E já ai, eu sofria.

Respirava fundo para tentar aguentar.

Quando achava que já chegava, lá me apertavam eles outra vez.


Mandaram-me por a mão nos pontos e apertar para me sentar.

Sentei-me.

E disseram-me para me levantar.

Levantei-me e, assim que me levantei, as lágrimas começaram-me a escorrer cara abaixo.

Achei que tinha acabado e que poderia voltar para a minha cama.

Mas não... explicaram-me que eu teria que andar até a casa de banho, tirar a roupa, vestir outra roupa antes de poder voltar para a cama.


A cada passo que eu dava, as lágrimas escorriam-me pela cara abaixo.

Depois de 3 passos, tinha chegado à porta da casa de banho e já não aguentava mais.

A enfermeira foi tudo o que eu precisava naquela hora. Olhou-me nos olhos e disse-me "eu estou de banco, só volto para casa amanhã. Tenho a noite toda para estar aqui. Fazemos no seu ritmo"


Era a forcinha que eu precisava para dar mais 4 passos. E lá fui eu, em camara lenta, passo a passo, devagar até chegar ao chuveiro.


Ali, tiraram-me a roupa, deram-me banho, secaram-me e voltaram-me a vestir.


Nunca tinha visto tanto sangue.

Tinha ouvido falar dos tais de lóquios, os lóquios, os lóquios.


Os lóquios, minhas amigas, somos nós a esvairmos-nos em sangue a mostrar ao Universo que Deus é mulher e que nós, desafiamos qualquer lei de biologia.


Secaram-me.

Vestiram-me.

Trouxeram-me de volta para a minha cama e finalmente deixaram-me descansar.


Nunca me tinha sentido tão vulnerável com naquele momento.

Nunca tinha sofrido tanto.

Nunca tinha passado por tanta dor física.

Nunca tinha precisado tanto de um abraço como naquele momento.

Nunca chamei tanto pela a minha mãe como naqueles pequenos 15 minutos.

Pareceram-me horas.


Hey gravidinha que está cheia de medo do parto.

Não se preocupa, não.

Não pense nisso.

Nós somos a força mais poderosa do Universo.

Não existe nada que nós não possamos fazer. N-a-d-a.


Na nossa imaginação é sempre pior do que a realidade.

E a realidade é essa que está aqui.

Vai doer?

P'ra ca*****.


Mas vou te dizer uma coisa que já ouviste mas ainda não entendes: vai valer tudo a pena.

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